segunda-feira, janeiro 30, 2006


Os pistácios

Um bom guerreiro é, amiúde, um fora-da-lei, em tempo de paz. Um grande livro dá, em geral, um mau filme. Um movimento de cidadãos unidos em torno de um objectivo, perdido o dito, tem tendência a virar patacoada amorfa com sigla pomposa. PRD, anyone? As mais das vezes, a sigla significa apenas:"estão verdes". Os cidadãos e as vozes, para não falar das nozes.

domingo, janeiro 29, 2006


Ordens

- Tu, pá, faz já um post!
- Eu? Eu? Quem? Eu? Eu?
- Tu, pá... Tu faz JÁ um post!
- ‘Tá...
- ‘Tá??? ‘Tá o quê?!
- ‘Tá feito.

sábado, janeiro 28, 2006


Tugir em Magritte



O Tugir completou dois anos de grande qualidade.
Ambos os autores se lembraram de atribuir algum mérito aos outros bloggers e insistiram em homenagear Magritte.
Pelo desapego, humildade e qualidade do que escrevem, os mais sinceros parabéns dos guardafactianos em peso e o desejo - claro, nestas coisas há sempre um desejo ou um voto (desculpem o termo)- que continuem a brindar-nos com a visão que nos faz voar.
Parabéns.

sexta-feira, janeiro 27, 2006


Mozart forever



Talvez hoje possamos esquecer o que nos tem dividido e lembrar a imensa dívida que nos une e que não cabe em nenhum orçamento.

Porque cada partitura é um poema - noutra forma de ser - que nos dá o sonho, a agonia, toda a emoção, enfim, até o deleite do que antecipadamente sabemos sentir no acorde seguinte.

Hoje seria o seu derradeiro requiem se este blog tivesse música.

Assim, resta o silêncio e a memória.
É verdade que não basta, mas nada bastaria.

terça-feira, janeiro 24, 2006


Para acabar de vez com as eleições

Cavaco ganhou: deve ser coisa da tal de alma lusa esta associação de ideias entre competência e o gajo com ar de carapau austero cheio de autoritarismos de inseguro sovado.

Cavaco ganhou e é feio chamar carapau sovado ao PR, adiante que se a democracia americana sobrevive a um arbusto nós também nos havemos de atrever com o coqueiro.

Cavaco ganhou e daí? Ramalho Eanes foi eleito presidente da república. Duas vezes. Se bem que a Manuela tinha imenso estilo.

segunda-feira, janeiro 23, 2006


Novo PR: second best / second beast

Para os optimistas:

A Economia cuida gerir, optimizar e rendibilizar recursos escassos.
Imaginemo-los como poderes presidenciais, esses escassos e diminutos recursos, tipo trunfos da bisca lambida, na mão de um PR... economista.

Para os pessimistas:

Sócrates não terá somente um novo PR, terá um cooperante estratégico, cuja táctica primará, em variações concomitantes, entre a afoiteza e rasgo de um Nelo Vingada e a perseverança e vigor de um inolvidável Venceslau Fernandes.

Para os cépticos:

Animem-se e tentem adivinhar* de que cor, com que diâmetro, com que espessura e irrigação sanguínea passarão a sair de Belém as orelhas de Sócrates, nas próximas quintas-feiras.

*Contamos aqui com o especializado know-how da betandwin

quarta-feira, janeiro 18, 2006


Cavaco com 51.1%*

Aquele cinco tem vindo a empalidecer recentemente. Não se pode seguir o exemplo de Souto Moura? É que dia 22 não me dá jeito nenhum ir à Assembleia... de Voto.

* sem distribuição dos indecisos, mas estes não votam Cavaco: quem está indeciso, tem forçosamente de pensar

terça-feira, janeiro 17, 2006


Contras e contras

Convidar Clara Pinto Correia para um debate sobre a alma da nação é como convidar o nu para discutir a vestimenta do andrajoso. Com a diferença que a opinião do nu sobre a qualidade do têxtil nacional é bastante mais relevante do que Clara Pinto Correia.


Uma cadeira chamada sarna

O suave milagre da globalização faz com que ninguém se coce. É tão barata que se está mesmo a ver que särna quer dizer conforto em sueco.

segunda-feira, janeiro 16, 2006


Momento cor-de-rosa

[Daqui]

First bump picture!

sábado, janeiro 14, 2006


Sondagem ao telefone (sob escuta) do guarda-factos

Jerónimo
Sim – Se ganhar, dança com Sócrates todas as quintas-feiras
Não – Manda tirar o verde da bandeira e enche os jardins do Palácio de chaparros

Cavaco
Sim – Não encontro motivo, se souberem digam-me por favor
Não – Sou utilizador da Ponte Vasco da Gama, não posso arriscar forças de bloqueio

Soares

Sim – O primeiro político a dar o exemplo na questão do aumento da idade da reforma
Não – Como viaja muito e paga bilhete de terceira idade, ajuda a afundar a TAP e a Portugália

Alegre
Sim –Helena Roseta à vice-presidência da república!
Não – Fará do Forte de Peniche o palácio presidencial

Louçã
Sim – Primeiro PR a receber os embaixadores de camisola de gola alta
Não – Despesismo… tinha de se adquirir um autocarro presidencial

sexta-feira, janeiro 13, 2006


Sondagem ao canto inferior esquerdo do guarda-factos, na esquina entre o cabide das gravatas e a gaveta dos peúgos

Jerónimo
Sim – Um achado como Comandante Supremo das FA
Não – Não respondo, a conselho do meu "controleiro"

Cavaco
Sim – Estrabismo (ai que cruzei no quadrado errado!)
Não – Sem dúvida

Soares
Sim – O MASP4 ali ao virar da década
Não – O Primeiro Filho

Alegre
Sim – HMV
Não – Vai uma bandarilhazinha na ilharga?

Louçã
Sim – Um viva ao sarrabulho!
Não – Falta de legitimidade: ainda não viu o sorriso na cara dum pastel de Belém

quinta-feira, janeiro 12, 2006


Sondagem ao borralho do guarda-factos

Jerónimo:
Sim – Sempre se sacavam uns lingotes ao BP
Não – Já tenho um vinhedo no Alentejo; agradecido à mesma

Cavaco:
Sim – É um economista razoável
Não – Não é nenhum Prémio Nobel

Soares:
Sim – O PR não tem poderes
Não – Magistratura de proximidade

Alegre:
Sim – Pratica tiro aos patos
Não – E alegre se fez triste...

Louçã:
Sim – Posts garantidos nos próximos 5 anos
Não – Sala de chuto na guarita de Belém

quarta-feira, janeiro 11, 2006


Sondagem à janela do guarda-factos

Jerónimo:
Sim - Dança muito bem e é pouco provável que nos dê música
Não – A mulher dele não chega aos calcanhares da do Cavaco

Cavaco:
Sim – A elegância, intelecto e presença de sua mulher
Não – Quando sorri, abre parêntesis; quando se ri, nasce uma chaveta; quando fala desfaz-se uma equação em falsete

Soares:
Sim – O avozinho é amigo do PR
Não – É chato repetir a mesma cadeira três vezes

Alegre:
Sim - Não tem vergonha de falar de pátria e, tal como eu, gosta de Portugal
Não – Não vejo nenhum motivo

Louçã:
Sim - Por vezes é verdade o que diz
Não – Convence-se que é verdade tudo o que diz


Sondagem à porta do guarda-factos

Jerónimo:
Sim - Portanto
Não - Portanto

Cavaco:
Sim - Saudades do buzinão e do bolo-rei
Não - O pugama, o pugama

Soares:
Sim - "Ó homem, desapareça!"
Não - Inveja das sestas

Alegre:
Sim - O Sócrates ficava lixado
Não - Antes a poesia que tal sorte

Louçã:
Sim - E porque não?
Não - E porque sim?

segunda-feira, janeiro 09, 2006


Mário Soares em blackout

In a related story, Jorge Nuno Pinto da Costa foi nomeado Director de Campanha do MASP3.


Inquérito intramuros

Motivos para não votar Cavaco Silva

Ser português (o PR representa…) – 40%

Ter vivido em Portugal entre 1985 e 1995 – 20%

Guterres está fora da corrida - 20%

Mas porque é que eu havia de ter um blog com estes palhaços – 20%


Motivos para votar Cavaco Silva

Poder um dia vir a precisar de uma declaração de inimputabilidade e assim deixar meio caminho andado – 80%

Mas porque é que eu havia de ter um blog com estes palhaços – 20%


Ficha técnica: Universo de cinco entrevistas, duas via telefone fixo e três em presença, uma das quais ao espelho.

quinta-feira, janeiro 05, 2006


Pequenas vitórias

Hoje, fui tomar uma vacina. A enfermeira disse-me que, dos mais de cinquenta utentes que vacinara até ao momento, só eu não havia chorado baba e ranho. Impei um pedacinho e ela sorriu. Quando cheguei cá fora, percebi-lhe os vincos na comissura: tinha acabado de ser vacinada na sala dos bebés.

terça-feira, janeiro 03, 2006


Pessoal e transmissível

As opiniões sobre a autobiografia de Maria Filomena Mónica parecem-me tão condicionadas pela subjectividade dos críticos em relação à pessoa da autora que começo por declarar a minha total isenção, se não mesmo enorme desconhecimento, quanto à sobredita. Antes de Bilhete de Identidade, apenas sabia que era uma socióloga com três nomes próprios, ligada ao António Barreto, com razoável obra publicada, em que distinguia o livro sobre Eça de Queirós. Lembrava-me, vagamente, de algumas crónicas ou artigos de opinião, que nunca me surtiram particularmente interessantes. O que não quer dizer nada: acontece-me o mesmo com a maioria das crónicas e artigos de opinião e é provável que MFM me pague o desconhecimento na mesma moeda.

A biografia é um género literário híbrido. Quando de uma figura historicamente relevante, documento para o estudo de um presente que influenciou muitos futuros. Quando de um cidadão comum, se honesta e rigorosa, documento valioso para a compreensão do mundo em que o vulgo viveu. Mas as aventuras de juventude, as peripécias românticas e as elucubrações íntimas do senhor Vulgo, biográficas para este, funcionam como romance para o leitor.

Dito isto, gostei de Bilhete de Identidade naquilo que narra de uma Lisboa que não foi a minha e nos mostra da limitada vivência da média burguesia urbana, católica e situacionista, dos anos 50 e 60. Ou seja, gostei da vertente National Geographic: os indígenas e o seu mundo. Com a chamada agravante foto de férias: o interesse de reconhecer lugares e pessoas que me dizem algo, in illo tempore.

Sendo a biografia de uma cidadã comum, o que ultrapassa o cenário documental passa a ser romance. E, nesse contexto, atraiu-me a construção das figuras da mãe, do pai e até da avó materna e do avô paterno da autora. Obviamente porque MFM também os romanceou. Não que não tenha procurado ser rigorosa, mas ninguém faz sociologia em seara própria: vemos sempre as pessoas que nos definiram como seres humanos de forma reflexa.

O restolho está na opção quanto ao relato da vida pessoal da autora. Aqui não há nem rigor documental, nem interesse ficcional algum. Obviamente, MFM tinha de fazer escolhas: o relato de uma vida não cabe nas páginas de um livro, mesmo em dois volumes. Optou por esbater da sua história irmãos, filhos e amigos, que aparecem como figurantes, e por realçar, mas retratando-os de forma unidimensional – apenas na vertente do relacionamento que com eles teve - os homens da sua vida. Acredito que tenha tido intenção de proteger a privacidade dos primeiros e pouco interesse nos segundos, para além do relacionamento amoroso. Mas isso tornou o livro coxo como biografia e raso como romance.

Numa perspectiva documental, teria muito mais importância saber, por exemplo, que dificuldades enfrentou MFM para dar aos filhos uma educação generosa e desempoeirada na Lisboa dos anos 60 e princípio dos anos 70 do que a enumeração das suas relações sentimentais. Ou até saber como geria as finanças. No limite, mesmo o preço do arroz seria mais relevante. Poderá argumentar-se que a autora relatou os factos da sua vida com a importância que para ela tiveram? Não, falácia. Afastando o preço do arroz, é evidente que a educação de um filho é bastante mais marcante do que o gajo com que se dormiu meia dúzia de vezes entre dois amores.

A opção pelos casos de coração poderia ter sido acertada, se os homens existissem para além da autora. Como aconteceu com a mãe, a avó, de certa forma o pai e o avô, que tiveram dimensão própria na obra. Mas os homens são quase todos pouco definidos, sem grande elemento de conflito interno, com a ligeira excepção do primeiro marido e de VPV, mesmo assim meros esboços. Pelo que esta linha, que domina a biografia, lhe retira valor documental, sem acrescentar qualquer interesse novelístico.

Aos panegíricos de que se trata de um livro brutalmente corajoso, em que a autora se expõe sem pruridos moralistas e sombras protectoras ou, no pólo oposto, aos gozos, muitas vezes pueris, de que se trata de uma manifestação de exibicionismo de uma fulana convencida, sem respeito pela privacidade alheia e que escreve mal, respondo serem ambas atitudes desajustadas.

Por um lado, a exposição é fogo fátuo. Em Bilhete de Identidade, as histórias de cama - que não de sexo - são meras enumerações, nada acrescem ou diminuem. E o relato da vida nada revela que a autora não queira que se saiba. Por outro, os gozos cheiram a melindre parolo ou a vontade de demolir: nem MFM escreve mal, nem Bilhete de Identidade é um tablóide. Embora a reputação de o ser tenha ajudado ao seu sucesso. Que, claro, é indesculpável para quem se melindra facilmente. Quanto ao facto de a senhora ser convencida, pois será… mas não tenho nada contra pessoas convencidas, excepto quando são incompetentes, e a biografia é competente. Pouco mais, mas pelo menos.

post corrigido

segunda-feira, janeiro 02, 2006


2006


[Daqui]